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No baú da sua história, as pessoas luteranas que vi-eram da Alemanha ao Brasil, a partir de 1824, trouxeram profundas experiências de fé e de vida comunitária.

Bíblia, hinário, livro de orações e liturgias são parte destacada dos componentes dessa herança. A partir da influência decisiva dos pastores que para cá vieram e acompanharam as comunidades4 , duas são as principais tradições litúrgicas que identificam o culto das comunidades da IECLB: a prussiana e a bávara.

A prussiana (Manual do Culto, 1964 ) é originária da determinação do rei da Prússia, Frederico Guilherme III, no início do século XIX, quando uniu as tradições reformada e luterana. Essa liturgia modelou o culto da maioria das comunidades da IECLB que surgiram nos estados do sul do Brasil.

Outra é a tradição litúrgica que até hoje identifica o culto luterano no estado do Espírito Santo (também denominada “liturgia capixaba”). Trata-se da li-turgia de tradição bávara (do sul da Alemanha). Essa liturgia consta no Prontuário do Culto Evangélico-Luterano (1955) .

Na medida em que a IECLB decidiu aprovar e adotar como sua liturgia oficial o ordo que a história legou, surgem algumas perguntas. O que acontece com as liturgias prussiana e bávara? Serão jogadas na lixeira da história? Têm elas alguma relação com a liturgia oficial?

Para tratar dessa questão, é útil analisar a tabela comparativa entre as liturgias prussiana ,  bávara e oficial da IECLB, aprovada no Concílio Geral de 2000 constantes no Manual de Culto .

Aumentaram as inquietações diante das práticas litúrgicas vigentes. No centro dessas inquietações estava o propósito de “reavivar o culto”. E uma maneira de traduzir isso em palavras era dizer que se buscavam liturgias “diferentes” e “novas”. Os chamados “cultos jovens” revelam a mesma preocupação.

Hoje sabe-se que a inquietação salutar com o culto das comunidades não é fato isolado na IECLB. A Igreja Católica Apostólica Romana lançou um projeto de reforma litúrgica em 1962, com o Concílio Vaticano II. Igrejas luteranas de vários países também sentiram-se desafiadas por questionamentos relacionados ao culto e à liturgia. Prova disso é que em 1977, em sua Assembléia Geral, a Federação Luterana Mundial (FLM) propôs reformas no culto e ofereceu subsídios para as discussões dali decorrentes . Neste sentido, pode-se perceber que a renovação litúrgica é um traço do rosto da grande ecumene, ainda que a maneira de renovar faça as igrejas caminharem por trilhos distintos .

No seu Concílio Geral, em 1990, em Três de Maio/ RS, os conciliares entenderam que chegara a hora de a IECLB oferecer às suas comunidades orientações mais concretas e mais claras sobre o culto. E assim foi elaborado um (novo) prontuário, que, entre outros recursos, continha uma liturgia para a celebração do culto comunitário principal, intitulada A Celebração da Eucaristia (Celebrações do Povo de Deus – CPD, p. 7-21) .

Na apresentação desse prontuário, está dito que o mesmo “destina-se a enriquecer e renovar a liturgia em nossa vida eclesial”. Partindo do pressuposto de que “liturgia faz parte da identidade cristã”, que ela “não deixa de ser expressão de uma teologia”, o referido prontuário foi “levado às comunidades para experiência e avaliação” (CPD, p. 5).

Essa decisão conciliar de 1990 ajudou a Igreja. A partir dali, muitos passos realmente foram dados em termos de liturgia. Inúmeros cursos de liturgia foram oferecidos, tanto para obreiros e obreiras quanto para pessoas que não são clérigos (as chamadas leigas). Foram elaborados materiais didáticos sobre liturgia. Também houve pesquisas no campo da liturgia.

Todas essas iniciativas, à luz da decisão conciliar de 1990, fermentaram nas comunidades. Resultaram em ensaios, experiências, estudos, discussões, com ritmos diversificados, por caminhos diferentes, com percalços e conquistas, envolvendo número expressivo de pessoas.

Ainda há questões ligadas ao culto que estão teológica e liturgicamente abertas. Carregam marcas teológicas e culturais específicas e, às vezes, divergentes de uma igreja para outra. Carecem, pois, de aprofundamento. Mesmo assim, a IECLB, a partir da sua história litúrgica, mas também como igreja que se entende como parte da ecumene, herdeira, por conseqüência, desse legado litúrgico comum, o ordo, que perpassa tempos, espaços, confissões e culturas, decidiu beber nas fontes do culto cristão.

Por isso, o Concílio Geral, no ano de 2000, aprovou a ordem de culto que esteve na base das reflexões e ensaios litúrgicos ocorridos a partir do concílio de 1990. Trata-se, na verdade, da ordem de culto que abrange os componentes principais da liturgia que o povo de Deus realizou ao longo da história, que delineou a renovação litúrgica proposta pela Federação Luterana Mundial (FLM), a partir de 1977, e que está na base da Liturgia de Lima.

Livro de Culto da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil