Alegria em meio à luta
Proclamar Libertação – Volume 41
Prédica: Zacarias 9.9-12
Leituras: Mateus 11.16-19,25-30 e Romanos 7.15-25a
Autoria: Michael Kleine
Data Litúrgica: 5º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 09/07/2017
1. Introdução
Zacarias 9.9-12 (ou apenas 9.9-10) tem sido tradicionalmente um texto ligado ao Domingo de Ramos. Tanto Mateus 21.1-9 como João 12.12-19, que relatam a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, citam essa passagem de Zacarias. Mas nosso texto de prédica também tem uma ligação com o 1º Domingo de Advento por sua perspectiva escatológica: o anúncio da vinda do rei/messias e do reino de Deus. Imagino que sua colocação no tempo após Pentecostes tenha sido feita objetivando uma mudança na ênfase da pregação: da cristologia (Paixão) e da escatologia (Advento) para a eclesiologia. Em vez de refletir sobre a obra de Cristo no passado ou no futuro, somos desafiados/as a olhar para sua ação no tempo presente da comunidade: a conclamação ao júbilo (v. 9), o anúncio de paz e a destruição das “armas” da comunidade (v. 10), a libertação dos cativos e das cativas (v. 11s) e a participação na luta contra os poderes que querem impedir a vinda do reino de Deus (v. 12: “Voltai à fortaleza”; cf. v. 13).
Em termos formais (sintaxe), faz sentido incluir o v. 13. O versículo segue usando a primeira pessoa do singular, como nos dois versículos anteriores e diferentes dos seguintes, que usam a terceira pessoa para falar de Deus. E ele começa com um “porque”, que fundamenta aquilo que foi dito nos versículos anteriores. Essa fundamentação liga o v. 13 aos v. 9-12 em termos de conteúdo.
Mateus 11.28-30 (“Vinde a mim…”) pode ser visto como parte do anúncio de paz do rei/messias (Zc 9.10); ele governa com mansidão e humildade e ensina a todos/as que aceitem o seu jugo suave. Dessa forma, ele estende o seu “domínio… de mar a mar” (Zc 9.10), proporcionando “descanso” (paz) a quem o segue em lugar da opressão dos poderosos deste mundo.
2. Exegese
Os escritos reunidos sob o nome de Zacarias possuem grande afinidade com a literatura apocalíptica. O tom é escatológico, o olhar está voltado para o futuro. Esse futuro é descrito de forma visionária com imagens que rompem a realidade presente e vão muito além das condições de vida conhecidas (do passado e do presente) – como no caso de nosso texto. Assim como Dêutero-Isaías, Zacarias proclama a volta de Javé a Sião, sendo que esse evento marca o fim da história e o início de um novo tempo: o reinado de Deus. O tempo presente – entendido como tempo final – é descrito como a luta entre o reino de Deus e os poderes do mundo que tentam impedi-lo. Esta é a temática que predomina nos capítulos 9-14: a luta e a expectativa quanto ao futuro de Jerusalém e de Judá/ Israel no “fim dos tempos”, que inicia com a volta de Javé a Sião.
Há concordância entre os pesquisadores de que esses capítulos já refletem a situação do povo de Deus no período helenista (período que começa com a conquista da Palestina em 332 a.C. pelas tropas de Alexandre Magno). O contexto social caracteriza-se pelo domínio (político, econômico e cultural) estrangeiro sobre Judá, pelo desenvolvimento de uma sociedade de classes e pelo conflito entre judeus e gentios. Na época helenística ocorrem uma invasão de formas de vida gregas (cf. 1Mc 1.10-15.41-51) e o questionamento da identidade religiosa e cultural judaica (pressão para adaptação ao novo modo de vida). Tanto na diáspora como na Palestina, a religião e os costumes dos judeus tornavam-nos “diferentes” da cultura dominante (helenismo), gerando pelo menos dois grupos distintos: os que se adaptavam ao modo de vida helenista (com o abandono da própria identidade cultural/religiosa; geralmente membros da elite) e os que eram marginalizados e/ou perseguidos. Essa divisão dentro da comunidade judaica aparece no Antigo Testamento como polarização entre “justos” e “ímpios”.
A literatura apocalíptica responde a essa situação de extrema crise (e à sensação de impotência para mudar as coisas) com resistência ideológica e contracultural, fomentando a preservação da identidade: “proclama uma esperança quando tudo parece perdido; sustenta a fidelidade a Deus quando o que foi recebido – e geralmente codificado em normas e leis – não responde adequadamente às crises do presente” (CROATTO, 1990, p. 13). As representações do futuro servem como “meio para exortar/consolar e manter a esperança para o momento presente de crise e sofrimento” (p. 20). Grupos apocalípticos surgem como uma forma de protesto e de resistência contra um sistema opressor e discriminador que os marginaliza. O conteúdo da proclamação apocalíptica é o fim da história e o início do reino de Deus. A finalidade dessa mensagem é a consolação – “os escolhidos devem aguentar o sofrimento, pois sabem que serão salvos quando chegar o fim da crise” (CROATTO, 1990, p. 13).
O capítulo 9 inicia com a descrição de uma campanha militar vitoriosa (provavelmente a derrubada do império persa pelas tropas de Alexandre Magno, que dá início ao período de dominação helenista), interpretada como uma ação da palavra de Deus, “como intervenção de Deus no mundo da História” (GESE, 1983, p. 211s). No v. 8, Deus declara que assumiu o controle (“meus próprios olhos”) e a proteção (“posto avançado”) de sua “casa” (seu povo), que não mais sofrerá opressão estrangeira.
Depois disso segue o hino escatológico de Zacarias 9.9s, que conclama o povo a alegrar-se com os feitos futuros de Deus. No v. 9, o mensageiro do rei convoca o povo de Jerusalém a uma manifestação pública para receber e homenagear o rei que chega vitorioso. De forma semelhante é proclamada em 2.14 (2.10 – Almeida) a chegada do próprio Deus para morar em Jerusalém (cf. Is 12.6/Sf 3.14s). Alegria e júbilo são as características do “tempo messiânico” (cf. Is 65.18). “Eis aí, teu rei” – esse que vem aí é um dos “teus”, um representante do próprio povo de Deus. E ele “vem para ti” – para o benefício do povo que o recebe.
O rei é caracterizado como “justo e salvo” (em Is 44.21, Deus é caracterizado como “justo e salvador”). “Justo” (saddiq) pode ser entendido no sentido passivo de “justificado”, “declarado/feito justo” por Deus. Mas também é possível interpretar em sentido ativo, ou seja, “justo” como alguém que vive de acordo com os preceitos de Deus (cf. Ez 18.9; Ml 3.18), alguém que pratica e promove a justiça. Nesse sentido, combina com o anúncio do “Renovo justo” em Jr 23.5; “justo” também é o servo de Deus que “justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (Is 53.11). Nos séculos após o exílio, quando os textos bíblicos receberam sua redação final, o termo “justo” designava a pessoa que permaneceu fiel ao Deus de Israel e à Torá, em contraposição ao “perverso/ímpio”, que se adaptou à cultura dos povos dominantes (cf., p. ex., Sl 1). Não vejo contradição entre todos esses significados do termo saddiq; eles devem ter estado à disposição dos/as ouvintes e leitores/as de nosso texto na época helenista.
Diferente do que traduz Almeida, o rei que vem não é “salvador”, mas “salvo” (forma nifal). Ele traz a vitória, mas não vence por força própria (cf. Zc 4.6: “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos”). Além do mais, ele é “pobre/humilde/oprimido”. O termo hebraico ani pode significar uma condição socioeconômica, mas também é um dos termos usados para designar os “justos”, aqueles “que trilham o reto caminho” (Sl 37.14), ou seja, os que permanecem fiéis ao Deus de Israel e sua Torá (em contraposição aos ímpios). O “pobre” podia tornar-se um alvo duplo dos “ímpios”: mediante exploração econômica e por meio de discriminação e perseguição religiosa. Com esses pobres/ humildes identifica-se aquele que vem, representando-os. São os pobres e humildes os únicos que restarão após o juízo divino (cf. Sf 3.12) – O rei pobre vem “montado em jumento”. O jumento como montaria deixa transparecer dois aspectos: a) remete à tradição messiânica (cf. Gn 49.10-11; 1Rs 1.38) e b) demostra uma certa fraqueza diante do aparato militar da época, baseado no cavalo e no carro de guerra.
V. 10 – O início na primeira pessoa do singular dá a entender que é Deus quem destruirá o armamento em Israel/Judá. Essa mudança de sujeito deixa claro que o rei apenas representa o reinado vindouro de Deus. O povo de Deus não apenas será desarmado, mas todo o armamento de guerra desaparecerá do seu meio, marcando o início de uma nova era. Assim como o rei depende totalmente de Deus, também o povo terá que confiar inteiramente em Deus (cf. 9.8). Após terem sido destruídos todos os instrumentos de ataque e de defesa do próprio povo, o rei humilde “falará paz para as nações”. A paz não é imposta por meio de armas, mas oferecida/criada por meio da palavra. O resultado é que seu reino será universal (“de mar a mar”). Pode-se concluir que a palavra de paz – respaldada pelo gesto concreto do desarmamento total – é aceita pelas demais nações (cf. Is 2.1-5: os povos acorrerão a Jerusalém, onde serão instruídos pela palavra de Deus, quebrarão as suas armas e as transformarão em ferramentas, dando início a um tempo de paz entre os povos).
Šalom é um termo amplo que abrange pelo menos dois aspectos: a) “paz” e “amabilidade” em oposição a guerra, inimizade, hostilidade; b) “bem-estar”, “prosperidade” e “felicidade”. O sentido geral é “estar satisfeito”, “ter o suficiente”. Paz é um estado de equilíbrio entre o que se espera e o que se tem. Isso vale tanto para as relações sociais como para as expectativas e anseios em relação a si mesmo (paz interior).
V. 11s – O início do versículo “quanto a ti” ou “também tu” faz a ligação com os versículos anteriores. Assim se estabelece um paralelo entre o caminho do rei e o caminho do povo. Assim como o rei vem de forma humilde e foi salvo/ ajudado por Deus, também a parcela do povo que está cativa será libertada por Deus. Difícil saber a que tipo de prisioneiros/cativos o texto se refere. Podemos imaginar pessoas que foram levadas ao estrangeiro como escravas; mas também é possível pensar em escravidão por causa de dívidas (cf. Ne 5.1-5). Deus permanece fiel ao compromisso que assumiu com o povo (“aliança”). Por isso ordena aos “cativos da esperança” que voltem para Sião, a cidade onde o próprio Deus é fortaleza (cf. Sl 46; Zc 2.8s; 9.8). São aqueles/as que continuaram confiando/ esperando na salvação de Deus, apesar de tudo indicar o contrário. “Também hoje”, ou seja, assim como na volta do exílio babilônico; “em dobro” (= abundantemente) foi a punição pelos pecados (cf. Is 40.2), ricamente será a graça com a qual Deus livrará seu povo da miséria (cf. Is 61.7). A esperança/fidelidade será recompensada, como relatam os v. 13-17: o próprio povo será o “armamento” (v. 13) que Deus usará para derrotar o novo império (os gregos) e seu modo de vida; eles/as experimentarão abundância (v. 17), proteção (v. 14s) e participarão da glória de Deus (v. 16).
3. Meditação
Zacarias 9.9ss é uma convocação à alegria seguida da sua fundamentação. O próprio Deus convoca, através do profeta, seu povo para uma manifestação coletiva e pública de júbilo. O chamado não é dirigido a indivíduos isolados, mas a um coletivo. As razões para a alegria também não são individuais, mas dizem respeito a uma mudança radical nas condições de vida do povo. Trata-se do anúncio de que Deus está chegando para colocar um ponto final na história da humanidade assim como a conhecemos: uma história de conflitos, de violência, de injustiças e de opressões. Encerrada será a história baseada na lei do mais forte. Deus vem para começar o seu reino de paz junto com a humanidade.
Ele começa trazendo primeiramente a seu povo (“para ti”) “o teu rei”. Esse rei é o oposto de todos os governantes humanos. Seu governo não está baseado na força da coerção nem na lei do mais forte, mas justamente numa demonstração de ausência de poder da forma como estamos acostumados/as. Ele não chega impondo seus planos, mas é alguém que se submete completamente à vontade e ao plano de Deus (“ele é justo”; cf. Mt 3.15). Ele próprio foi salvo por Deus e não pelo poder e recursos que controla. Ao contrário de todos os detentores de poder, ele é “pobre/humilde”. Desde o princípio, a comunidade cristã viu nessa descrição a pessoa de Jesus de Nazaré (Mt 21.1-11), a quem Deus “fez Senhor e Cristo” (At 2.36).
Próprio desse texto é a destruição das armas do povo de Deus, seu desarmamento. Num mundo dominado pelas armas de guerra, em constante luta pelo poder, o povo de Deus é levado ao caminho inverso. Com a vinda do rei pobre começa um novo tempo; há um rompimento com o passado bélico e com o antigo ideal de dominação dos povos vizinhos. O reino de Deus começa neste mundo com o rompimento da lógica deste mundo e com a eliminação dos instrumentos que sustentam essa lógica. Ele traz uma paz diferente daquela que é imposta pelos mais fortes. É a paz como resultado da “Palavra”, que cria acordo e consenso, em que as nações em conflito não veem umas as outras como recursos a serem explorados em benefício próprio. Cessa a luta insana por poder e dominação.
Mas o texto deixa bem claro que esse objetivo, essa paz, não surge como resultado de esforços humanos ou de uma evolução da humanidade. Há uma intervenção divina. Deus começa desarmando seu povo, destruindo suas armas. A divisão no seio do povo (Israel x Judá) é superada. Deus começa seu reino reconciliando e transformando seu povo, quebrando sua resistência, destruindo os instrumentos que lhe dão (falsa) segurança. A transformação visa deixá-lo semelhante ao próprio rei pobre, destituído de armas e de poder. Sua única arma é a palavra de paz. Deus oferece paz aos povos por meio do rei justo e pobre e de seu povo desarmado.
Apesar de o reino de Deus representar um rompimento com a história humana, ele também apresenta continuidades. Nem tudo foi injustiça e opressão. Deus já colocou as bases de seu reino no passado através da aliança que fez com seu povo. Baseado na fidelidade a essa aliança (v. 11), Deus liberta aqueles/as que ainda estão cativos sob os poderes deste mundo (opressões políticas, econômicas, culturais, ideológicas).
Zacarias 9.9ss é uma convocação ao júbilo num tempo que é descrito como sendo de luta entre o reino de Deus e o reino deste mundo. A ideia que perpassa o texto é que o reino de Deus não vem de uma hora para outra, mas como resultado de um (longo?) período de luta. Enquanto o mundo continua tentando manter-se com base no poder da coerção, Deus luta com seu povo destituído de poder, desarmado. Sua única “arma” é a confiança na vitória do rei pobre que foi salvo e exerce seu reinado por intermédio de sua palavra de paz.
Zacarias 9.9ss convida-nos para refletir sobre nossas “armas” nessa luta entre reino de Deus e reino do mundo, baseados/as naquilo que Deus nos revela em Jesus. Deus revela-se ocultando seu poder na humanidade de Jesus Cristo. A única arma de Jesus foi a palavra. É dessa forma que ele está presente em sua comunidade: na Palavra. Onde cresce a Palavra, cresce o reino de Deus (cf. At 6.7). Deus não nos impõe seu reino, mas nos convence a participar dele, criando em nós a fé. Ele não usa artifícios ou sabedoria humana para nos incluir ou manter em seu reino. Ele não precisa disso.
Até que ponto confiamos, como ministros/as e lideranças, nesse poder criador e mantenedor do evangelho? Não estamos apostando muito mais em estratégias e artifícios humanos para manter a instituição funcionando? Estamos dispostos/as a ser desarmados/as por Deus e a colocar nossa prioridade em edificar a comunidade por meio de palavra e sacramentos (= “palavra visível”)? É Deus mesmo quem edifica seu reino, começando pelo “desarmamento” do seu povo e anunciando a paz (= evangelho) às nações.
Como pessoas cristãs, temos mais motivos de alegria do que os/as primeiros/as ouvintes de Zc 9.9ss: sabemos que o rei anunciado já veio e que ele já espalhou seu domínio “de mar a mar” por intermédio do evangelho. Sabemos também como o evangelho de Jesus Cristo foi capaz de transformar vidas e de carregar comunidades nos últimos dois milênios. Zacarias 9.9ss mostra-nos que Deus luta por nós e que ele continua libertando pessoas – principalmente das correntes que representam a ideologia e o modo de vida impostos pelos impérios que dominam este mundo.
4. Subsídios litúrgicos
Um hino que contém imagens muito parecidas com Zacarias 9.9ss é “Deus é castelo forte e bom” (HPD 1 – n. 97). Ele lembra que o próprio Deus é nosso armamento e defesa contra as armas do inimigo que domina este mundo: poder e astúcia. “Com nossa força nada alcançaremos” (conforme o texto original da segunda estrofe), a vitória está nas mãos de Jesus Cristo. A palavra é a única arma que pode impedir e derrotar o inimigo (terceira e quarta estrofes): “As armas, o Senhor nos dá: Espírito, Verdade”. A esperança do Reino relativiza as dificuldades impostas pela luta contra os poderes contrários a Deus: “Se a morte eu sofrer, se os bens eu perder…”. O Reino que já começa e ser estabelecido é a razão da nossa alegria.
Bibliografia
CROATTO, J. Severino. Apocalíptica e esperança dos oprimidos (contexto sociopolítico e cultural do gênero apocalíptico). In: RICHARD, Pablo (Coord.). Apocalíptica: esperança dos pobres. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana / RIBLA, n. 7. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Imprensa Metodista; São Leopoldo: Sinodal , 1990. p. 8-21.
GESE, Hartmut. Início e fim do apocalipsismo, à base do livro de Zacarias. In: Apocalipsismo: coletânea de estudos. São Leopoldo: Sinodal, 1983. p.190-218.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).